sábado, 14 de maio de 2011

Sem história

Mais de quatro meses depois da última mensagem - em todo este tempo veio a confirmar-se aquilo que todos perspectivavam nos primeiros dias de 2011 - a nota é o final do campeonato. Hoje, após o 13 de Maio, jornada última que Sporting e Nacional, sobretudo, desejam que seja abençoada.

Não há novidades, repita-se, no classificação geral. Naval e Portimonense há muito condenados; FCPorto campeão desde Agosto, com o Benfica, inofensivo, sempre na sua retaguarda. O Marítimo viu o seu sonho esfumar-se por entre os seus infortúnios, mas, nesta luta pela Europa desejada, Rio Ave e Nacional ainda querem mostrar os seus derradeiros atributos. Fora de portas, frente a Olhanense e Beira-Mar, estas duas formações lutarão para verem os seus objectivos conquistados, ainda que o Nacional pareça estar muito mais confortável neste confronto final.

O Braga é que tem ido por aí acima. Depois de um início periclitante, os homens de Domingos ganharam força, coesão e maturidade. Três características importantíssimas que não só os colocaram na final da Liga Europa, a disputar na próxima semana, como lhes permitiram estar, na última jornada, a defender no seu terreiro o terceiro lugar do doente Sporting.

Estas lutas, 3º posto e Europa, são as únicas lutas interessantes para acompanhar, mais logo, na definição da grelha final. Isto, confrontos decisivos nos últimos jogos, é de aplaudir, num campeonato perfeitamente atípico e sem história.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Golos, vitórias e show-off.

O equilíbrio que se vê no futebol português, tantas vezes desmentido pelos seus adeptos, nota-se por diversas ocasiões, como prova contrária. A jornada que passou, a última da primeira volta, foi apenas a terceira em que os três grandes venceram os seus jogos, cujos resultados podem ser recordados aqui.

À felicidade, pelos resultados obtidos, acresce o facto de em todos os jogos se terem marcado grandes golos (reveja-os mais abaixo), seja o de Salomão, o de Saviola e, sobretudo, o de Guarín.

Benfica a Porto podem demonstrar que a inspiração não se limitou ao fim-de-semana já hoje, nos jogos que ambos realizam a contar para a Taça de Portugal, com Olhanense e Pinhalnovense, respectivamente, enquanto o Sporting, já eliminado da competição, deixar-nos-á à espera de ver se o seu registo aumenta para quatro vitórias consecutivas.



Diogo Salomão, Sporting vs Sp. Braga



Javier Saviola, U.Leiria vs Benfica



Freddy Guarín, FCPorto vs Marítimo


domingo, 2 de janeiro de 2011

Taça dos pequenos para os grandes.

Ano novo, vida nova. É o que diz o dito popular.

Não se sabe muito bem se a vida modificar-se-á por completo, mas o futebol, neste início de ano, reinventou-se - proeza conseguida pela Taça da Liga, após 14 dias de interregno -.

E recomeça mal, para os lados do Porto. Após a prenda natalícia dada a André Villas-Boas (renovação de contrato), o treinador portista quis justificar o porquê de tão constantes elogios e endeusamentos perdendo, pela primeira vez, ao leme da sua nau. O portentoso adversário: Nacional da Madeira, que venceu por 2-1, depois de ter estado a perder, em pleno Estádio do Dragão. Viva a Taça da Liga!, pensa, com certeza, Predrag Jokanovic.

Não se sabe se será justo esse possível pensamento. Na verdade, a Taça da Liga não é mais do que uma prova para preenchimento de calendário e esta está extremamente mal organizada. Fala-se, recorde-se, da competição mais recente do futebol português, o que não justifica tudo.

A competição
A Taça da Liga, na sua versão 2011, apresenta diversas modificações (nunca manteve a mesma estrutura competitiva desde a sua criação). Tem, para mal dos seus pecados, a colagem aos clubes pequenos, de segunda liga, sobretudo por estes poderem beneficiar de incentivos monetários, dependentes obviamente de resultados, e jogarem tão pouco na sua humilde competição.

Então, os clubes de segunda liga iniciam, eles próprios, a competição entre si, na denominada primeira ronda. Note-se que, neste aspecto, a Taça equipara-se estruturalmente aos outros anos. Depois, por fases, e com a queda dos clubes derrotados, caem na prova os temíveis primodivisionários.
Cria-se, assim, quatro grupos, de quatro equipas cada, o que prefaz um total de dezasseis clubes. Ao contrário do que poderia ser mais sensato, que passaria por jogos entre esses mesmos clubes de cada grupo, em estádio próprio e estádio visitante ou, quanto muito, mais jogos no estádio caseiro das equipas ditas mais pequenas do que nos da primeira liga, a competição convida os mais pobres a deslocar-se à casa dos mais ricos.

Sendo que desta vez até houve direito a cabeças-de-série - os quatro primeiros da classificação da primeira liga do ano transacto, estes beneficiam até de dois jogos em casa, sendo que a fase de grupos tem apenas três jornadas. Em tudo, portanto, os clubes pequenos saem beneficiados.

Os pequenos também ganham

Felizmente, para calar os treinadores dos clubes de média/alta dimensão, concretamente Vitória de Guimarães, o futebol e os resultados não se antecipam. O Desportivo das Aves, o Gil Vicente e o Nacional provaram-no frente a equipas superiores, com maiores objectivos (dada a estruturação da prova) na competição.

É caso para dizer que há bons projectos e louvar o muito trabalho que os clubes humildes levam a cabo e que, apesar da deficiente organização da Taça da Liga, os valores estão acima da presunção.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Há lá festa mais linda do que a Taça?

É de equipas como o Vitória de Setúbal e o Pinhalnovense que a Taça de Portugal precisa. São equipas como estas que fazem notícia.

No caso do Vitória de Setúbal, trata-se, sobretudo, de uma conquista perante um crónico candidato: o Sporting. Se bem que de crónico candidato à vitória final, seja em que competição for, o Sporting tenha cada vez menos.

Os três golos do jogo (2-1):



 
Já a equipa do Pinhal Novo foi a Matosinhos vencer o Leixões, nas grandes penalidades, tornando-se, também, numa boa surpresa.

Os restantes resultados estão disponíveis aqui.

domingo, 28 de novembro de 2010

Eles também ganham!

O Benfica acaba de vencer, em Aveiro, o Beira-Mar, por 3-1. O Marítimo venceu, ontem, o Vitória de Guimarães, por 2-0. Pelos vistos, as equipas aqui mais faladas também vencem (e jogam bem). Será isso suficiente, aos olhos dos adeptos? Creio que na próxima jornada se saberá.

O Marítimo partia para o jogo, com um teórico adversário directo, atacado por um início de época desastroso, por uma eliminação precoce na Taça de Portugal - e na Liga Europa, diga-se -, com os avanços e recuos das obras no Estádio dos Barreiros e com um treinador que não cativa sequer o mais crente adepto maritimista. Tudo isto para dizer que o Vitória de Guimarães partia como favorito para o jogo, no Funchal.

Tudo errado. Não fosse o lado surpresa o que mais estimula todos os amantes do desporto-rei. O Marítimo, apesar de beneficiário de um erro clamoroso de arbitragem, dominou, controlou, foi 'senhor' do jogo e mostrou que o 14º lugar é temporário. O treinador, agora, respira fundo e pode, garantidamente, trabalhar com outra confiança, a partir do resultado de ontem.

Os da Luz venceram no Municipal de Aveiro, jogando muito bem durante 70% do jogo. Será de admirar, quando o adversário de jogo se chama Beira-Mar? Sim. Os adeptos têm, efectivamente, de se habituar às prestações bipolares do Benfica.

Da última vez que me referi ao clube, este tinha perdido por 0-5, logo com o FCP. Pelo meio, para enganar, goleiam a débil Naval (4-0), e são humilhados pelo mediano Hapoel (0-3). Na lógica da bipolaridade, o resultado a esperar seria, por acaso, uma vitória, mas perante a conjuntura actual (um presidente satisfeitíssimo com os resultados alcançados pelo treinador; um treinador que só actua em monólogos - palavras de antevisão dos jogos à Benfica TV) será melhor não se fiar. Isto, claro, sem perder o benfiquismo.
Agora, depois das vitórias saborosas do campeão nacional e do dito campeão das ilhas, e do clássico algo insosso, o Benfica está a uns mais atraentes oito pontos de distância para o primeiro lugar, e o Marítimo, sem alterar o cenário classificativo, mostra as garras.

Veremos se há antídoto para a doença. Venha daí o próximo fim-de-semana!

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Descaminho marítimo

Segunda-feira, dia de meter mãos ao trabalho. Ou dia de descanso, para os que trabalharam no domingo. É também, no mundo do futebol, sempre mais ou menos por esta altura do ano, o tempo em que se disseca as prestações na Taça de Portugal. Sim, a Taça! Aquela que une os Davides e os Golias. A que é idolatrada pelos analistas conservadores e que é desprezada pelos joviais. Aquela que leva, ainda!, montanhas de gente a Oeiras para a consagração do vencedor.

Grande MarítimoObservando os resultados finais, há três que merecem destaque por oporem seis equipas da liga principal, reunindo a curiosidade de, nos três, ter-se registado o mesmo resultado (1-2) e de terem sido as equipas da casa a ser eliminadas: Beira-Mar, Portimonense e... Marítimo.

Qual a diferença entre estes três emblemas? Os dois primeiros estão acabadinhos de chegar à Primeira Liga, o outro já lá está há mais de trinta anos. Mas de que serve a um clube estar no mais alto patamar do futebol nacional se este não se consegue impor no mesmo? O Marítimo é visto como um clube mediano, que joga mau futebol (mesmo quando joga bem), mas raramente é descartado pelos comentadores, nos palpites-pré-temporada, como candidato à Europa.

Quando um clube estagna e não consegue ver uma oportunidade de crescimento, é sinal de que há algum problema. Se isso acontece a nível de resultados e se despede um treinador como solução, também deveria haver o bom senso, por parte de quem comanda um clube, para perceber quando é que um projecto está esgotado e que as necessidades desse clube passam por outras pessoas no seu leme.

No Marítimo isso não acontece. Falamos de um clube centenário, o ''campeão das ilhas'' - lá diz o hino -. O único clube no país que dispõe de uma segunda equipa - óptima fonte de receitas para o clube, no caso da projecção de jogadores -. Mas o clube não avança. Os seus pontos fortes são, ironicamente, as suas fraquezas.

Não há uma política clara para a equipa profissional de futebol, acerca dos objectivos desportivos. Na última década, o Marítimo, pela voz do seu presidente, ambicionou sempre participar nas provas europeias. Falou-se, inclusive, do sonho do senhor Carlos Pereira: participar na Liga dos Campeões. Utópico. Por três ocasiões, em dez possíveis, conseguiu ir à UEFA. Apenas às eliminatórias, em que foi... eliminado. A equipa B, em vez de se basear na formação de jovens futebolistas madeirenses, acolhe os jogadores menos rentáveis (ou descartados) da equipa principal. Em nove anos, o clube conheceu doze treinadores. Nesses mesmos nove anos, o rival Nacional já lhe mordeu os calcanhares diversas vezes e ganhou uma importância tal que já não estranha vê-lo com o dobro dos pontos do Marítimo, no campeonato.

Reflexões clubísticas à parte, fiquem as memórias longínquas de um Marítimo aguerrido e apaixonante, que jamais seria claramente eliminado em casa, por uma equipa inferior.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

O super-herói e a depressão de seis milhões


Armadilhas tácticas de Jesus
Fonte: A Bola

O Halloween chegou ao futebol com uma semana de atraso. Que o diga Jorge Jesus e os jogadores, escolhidos por si. No decorrer da passada semana, o Benfica teve o mérito de virar as expectativas que se geravam relativamente ao clássico de ontem, devido a um jogo soberbo frente a uma das melhores equipas europeias, capaz de fazer lembrar alguns dos jogos épicos da temporada anterior. Por sua vez, o Porto dava um sinal de fraqueza, pela primeira vez este ano, também no seu jogo europeu, deixando antever que o embate com os lisboetas seria, efectivamente, muito mais equilibrado do que se acharia, há oito, nove dias atrás.

No jogo de palavras, os treinadores assumiram as posturas já esperadas. O do Porto, André Villas-Boas, demonstrou vontade de ampliar a vantagem para o Benfica, elogiando o adversário e atribuindo-lhe capacidades que este ano não tinham sido ainda vistas. Jorge Jesus, do Benfica, acanhou-se. Não assumiu, por uma vez que fosse, vontade de vitória e, no meio do seu discurso, saltava à vista o medo de ser claramente derrotado pelo adversário.

A constituição inicial das duas equipas atemorizava os adeptos e simpatizantes benfiquistas, mesmo os mais optimistas. Na equipa portista, tudo óbvio. Na do Benfica, adaptações e criações capazes de causar inveja a mentes mais originais. Noventa minutos depois, cinco a zero, a favor do Porto.

Há muitas razões para explicar tamanha desgraça para os campeões nacionais, mas de entre esse conjunto há uma razão que emerge: a terrível preparação do Benfica para esta nova época. Jesus, o terrestre, queixa-se disso constantemente. Os adeptos compreendem. Não haveria nada de estranho nesta história de lamúrias caso o responsável pela preparação da nova temporada não fosse o treinador. Curiosidade das curiosidades, Jorge Jesus foi o máximo responsável por isso!


Hulk, o carrasco
Fonte: A Bola

O treinador benfiquista, qual bruxo maquiavélico, apostou num defesa central sem rotinas de jogo e confiança para titular; arrastou aquele que diz ser um defesa central de categoria mundial para o lado esquerdo, porque este ''o conhece'' e atirou para o ataque um homem que tem como função a criação de jogo, abdicando do executante natural dessa tarefa ofensiva - não houve, portanto, definição de jogo no Benfica e as movimentações ofensivas foram precárias. Mas o Porto, para ele, foi ''muito eficaz'', simplesmente. Ah!, e contou com Hulk, que deve ter sido, caso tenha interpretado correctamente a mensagem, o único jogador ''inspirado''.

Na realidade, a questão é mais complexa. Jorge Jesus vive do passado. Angel di María e Ramires são, hoje, os fantasmas que atormentam as noites do treinador do Benfica. Os seus substitutos, Gaitán e Salvio, são os pesadelos. Perante o passeio exibicional da época passada, a fasquia estava (e está!!!) legitimamente muito alta.
 
Não digo que seja legítimo esperar que aconteça tudo o que se passou no ano anterior, mas o certo é que é da responsabilidade de quem lidera dotar a sua equipa de mais-valias apropriadas para as lacunas existentes. Além do mais, o Benfica subiu um patamar na Europa, o que é directamente proporcional a uma aposta financeira mais certeira, a uma análise do mercado mais séria.

No dia oito de novembro de 2010, com três meses de competição apenas, o embruxado Benfica aparece em segundo lugar na classificação. Nada de problemático, não fosse os dez pontos que já o separam do primeiro lugar... do Porto. Este, está bem. Caminha a passos largos para uma época descansada, facilitada por mérito próprio e por deslizes da concorrência. O Benfica acordará (se acordar) tarde. Necessita de corrigir rapidamente os handicapes da sua equipa (lateral direita!!, lateral esquerda!!) e precisa, sobretudo, de voltar a confiar em si mesmo.

P.S. Já que Jorge Jesus tem um interesse natural por contratar avançados e o Benfica se gaba de estar financeiramente saudável, porque não pagar cem milhões de euros pelo Hulk?