segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Descaminho marítimo

Segunda-feira, dia de meter mãos ao trabalho. Ou dia de descanso, para os que trabalharam no domingo. É também, no mundo do futebol, sempre mais ou menos por esta altura do ano, o tempo em que se disseca as prestações na Taça de Portugal. Sim, a Taça! Aquela que une os Davides e os Golias. A que é idolatrada pelos analistas conservadores e que é desprezada pelos joviais. Aquela que leva, ainda!, montanhas de gente a Oeiras para a consagração do vencedor.

Grande MarítimoObservando os resultados finais, há três que merecem destaque por oporem seis equipas da liga principal, reunindo a curiosidade de, nos três, ter-se registado o mesmo resultado (1-2) e de terem sido as equipas da casa a ser eliminadas: Beira-Mar, Portimonense e... Marítimo.

Qual a diferença entre estes três emblemas? Os dois primeiros estão acabadinhos de chegar à Primeira Liga, o outro já lá está há mais de trinta anos. Mas de que serve a um clube estar no mais alto patamar do futebol nacional se este não se consegue impor no mesmo? O Marítimo é visto como um clube mediano, que joga mau futebol (mesmo quando joga bem), mas raramente é descartado pelos comentadores, nos palpites-pré-temporada, como candidato à Europa.

Quando um clube estagna e não consegue ver uma oportunidade de crescimento, é sinal de que há algum problema. Se isso acontece a nível de resultados e se despede um treinador como solução, também deveria haver o bom senso, por parte de quem comanda um clube, para perceber quando é que um projecto está esgotado e que as necessidades desse clube passam por outras pessoas no seu leme.

No Marítimo isso não acontece. Falamos de um clube centenário, o ''campeão das ilhas'' - lá diz o hino -. O único clube no país que dispõe de uma segunda equipa - óptima fonte de receitas para o clube, no caso da projecção de jogadores -. Mas o clube não avança. Os seus pontos fortes são, ironicamente, as suas fraquezas.

Não há uma política clara para a equipa profissional de futebol, acerca dos objectivos desportivos. Na última década, o Marítimo, pela voz do seu presidente, ambicionou sempre participar nas provas europeias. Falou-se, inclusive, do sonho do senhor Carlos Pereira: participar na Liga dos Campeões. Utópico. Por três ocasiões, em dez possíveis, conseguiu ir à UEFA. Apenas às eliminatórias, em que foi... eliminado. A equipa B, em vez de se basear na formação de jovens futebolistas madeirenses, acolhe os jogadores menos rentáveis (ou descartados) da equipa principal. Em nove anos, o clube conheceu doze treinadores. Nesses mesmos nove anos, o rival Nacional já lhe mordeu os calcanhares diversas vezes e ganhou uma importância tal que já não estranha vê-lo com o dobro dos pontos do Marítimo, no campeonato.

Reflexões clubísticas à parte, fiquem as memórias longínquas de um Marítimo aguerrido e apaixonante, que jamais seria claramente eliminado em casa, por uma equipa inferior.

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